terça-feira, 8 de março de 2016

Por Que Motos, Jones?






Uma resposta simples.

É uma das heranças mais puras e desinteressadas que recebi do meu pai, e não falo de valores ou qualquer bem físico ou material, mas da paixão em si, passada de pai pra filho.

Se o gosto por motos pudesse ser algo genético, seria esse o meu caso. Lembro de motos na minha vida desde que me entendo por gente, provavelmente, já estavam nela bem antes disso. Conheci aquela sensação de adrenalina combinada com o vento no rosto, talvez antes de engatinhar, viajando no tanque de clássicas, agarrado aos seus guidons como se fosse eu a conduzir, embora provavelmente nem entendesse o que se passava, só sabia que era bom demais, talvez a primeira sensação de me sentir vivo de verdade.


É inegável a influência do meu velho, foi com ele que ouvi pela primeira vez uma quatro cilindros rugir, barulho que faz os pelos do corpo arrepiar e o coração bater mais forte, só de estar por perto, como se um animal selvagem me fitasse pronto para o ataque, me chamando, plantando uma ansiedade e vontade de chegar cada ver mais perto, para roubar a minha alma e leva-la para um passeio.

Apesar de morarmos separados há muito tempo, a cada visita que fazia ao meu pai uma coisa era certa, tinha que rolar o passeio. Mal precisava pedir, e ele me levava com o maior prazer e cuidado do mundo. E por mais que eu tenha de admitir que quando o vento batia um pouco mais forte em mim, eu sentia medo e suava frio, eu nunca pedia pra parar, na verdade era sempre o inverso, “De novo pai”, “vai corre, corre”, vivenciar essa emoção já era viciante, me fazia a desejar cada vez mais, em um sentimento inexplicável, até porque não se resume a um só, e talvez ainda não tenham inventado um nome para a coletividade deles.




Das lembranças daquele tempo, destaco os passeios na GL 1000 Goldwing amarela, nos anos 90. A moto havia sido cuidadosamente restaurada, e me lembro de ver da garupa, como ninguém podia deixar de reparar nela, eu morria de orgulho e me sentia provavelmente como Jack no Titanic, ou DiCaprio no Oscar, “I’m the King of the World!”, pelo menos eu era. 

GL 1000 GoldWing

Não existe um tipo de moto que eu não goste, em um sonho utópico, a minha vontade era ter uma de cada para cada ocasião, talvez em breve eu até liste elas, mas pelas minhas influências, acho que é bastante previsível que tendi pelas esportivas. Uma das grandes responsáveis por isso, foi outra moto do meu pai, uma Kawasaki Ninja ZX-11, na qual vivenciei uma das histórias mais comedias da minha vida, envolvendo uma fita de fixação do capacete mal amarrada que importou em uma boa sapecada no pescoço por aproximadamente 70 km de viagem. 

Kawasaki ZX-11 Ninja

Essa moto influenciou diretamente na escolha da minha primeira, considerando também as minhas possibilidades financeiras ao tempo da aquisição do sonho, conquistado pela ralação em dois estágios diferentes durante o meu tempo de estudante.

A decisão não poderia ter sido mais acertada, nela conheci de fato a emoção de conduzir a minha própria moto, sentir que todo aquele poder agora residia na palma de uma das minhas mãos, apenas esperando uma torcida de pulso para se libertar como aquele animal selvagem, que antes apenas me conduzia, e agora considerava também a minha vontade, exigindo a minha total dedicação e atenção no seu controle, se moldando cada vez mais ao meu estilo, me proporcionando emoções, ou tão somente a paz de um vento no rosto e um sol sobre ombros, me afastando da rotina e livrando a minha mente dos problemas do dia a dia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário