terça-feira, 22 de março de 2016

Crônica de uma Quebra Anunciada

EU, neste momento.
Os sinais! Ah, os sinais...Vigiai-os!

Premeditando o fim que se aproximava, Renegada (sim, esse é o nome da minha moto) me enviava muitos deles. Perdia torque e potencia em altas marchas, engasgava em baixas rotações, chegou até mesmo a apagar no semáforo. 

Eu, o curioso do multímetro e manual de serviços, apostando ter descoberto o motivo das falhas e criando meios para remediar a situação confiei estar longe o dia em que amargaria novamente à beira da estrada, reencontrando um provérbio sagrado do mundo das duas rodas: 


“Botas de motociclismo são uma merda pra caminhar” – uma merda muito maior pra empurrar a moto, acreditem. 


Sempre fui fiel aos ritos da troca de óleo, tratei-a como se fosse uma Bimota, levando-a, ao menor sinal de problemas, à Meca – também conhecida como oficina - prestar homenagens ao profeta das mãos de graxa. Estava ali, naquele começo de tarde de sábado, jogado no acostamento procurando por refresco na sombra de um outdoor. Que inferno astral!

Naquele final de semana estava acontecendo um evento na Harley Davidson (errou, a minha não é uma Harley), e tinha combinado de encontrar uns amigos, inclusive o Jones, para ver as modas e aproveitar o tempo ocioso falando sobre motos.  A HD daqui de Brasília é distante do meu bairro uns 25km e, mesmo com todas essas falhas, eu já havia rodado uns 300km na semana. Acreditando que seria mais um dia tranquilo de diversão, cego pela fé, lá fui eu.

As Quatro Falhas do Apocalipse

Feliz pra cacete, como sempre fico quando ando de moto, peguei o rumo da HD. Embora tivesse sido uma semana de chuvas fortes, o sábado era um daqueles típicos de céu azul e nuvens dos Simpsons. Abandonei a jaqueta que uso diariamente e fui queimando o couro. 

Saindo de casa, passo por uns três ou quatro semáforos, mas com a moto fria, nem sinal dos problemas. O inferno vem acompanhando do aumento da temperatura do motor, ou vice-versa. 

Já estava muito próximo do meu destino, quando a primeira falha se manifestou. Renegada apagou no semáforo. Tento dar a partida e nada. Peço para o carro ao lado esperar enquanto encosto próximo ao meio-fio e ali, por 27,5 segundos realizo as manobras de ressuscitação, que envolvem acelerador, troca de marchas, aquele ritual pra fazer a moto pegar que só o dono conhece. Enfim, ela recobrou os sinais vitais.

Mas não por muito tempo. A segunda falha se manifestou, da mesma forma que a primeira, e logo no semáforo seguinte. Desta vez, não teve manobra que desse jeito. Tive que estacionar a moto na calçada, estrategicamente na descida e apontando para a rampa de deficientes, para, após uma pausa de uns 5 minutos, fazer a moto pegar no tranco e seguir viagem. Não recomendo realizar isso com frequência, mas assim o fiz, e enfim, cheguei ao meu destino.

Algumas horas depois (me senti o escritor de final de novela das oito agora kkk) bati em retirada do evento. Um toque no start, moto funcionando, os dois cilindros ok, barulho normal, ou seja, o mesmo falso sinal de melhoria de quando saí de casa pela manhã. Enrolei o cabo e dá-lhe km.

Novamente perto do meu destino, minha casa desta vez, a terceira falha aparece. Mais uma parada no semáforo, mais 5 minutos na beira da pista, mais manobras de ressuscitação, mais pragas rogadas, mais arrependimentos em ter optado pela Renegada (Não foi o primeiro dia que ela me fez isso) e, depois de muito penar e chegar a pensar em pegar o isqueiro e dar cabo ao sofrimento, enfim deu certo, ela soprava CO2 novamente. 

Só me faltavam mais 5km, e eu pensando: “vou na maciota, furo o próximo sinal, não vou pela avenida principal que é cheia de semáforos, vou por dentro”. Planejada a rota de fuga, foi dada a largada à tentativa de chegar em casa em cima da moto.

UM QUILÔMETRO DEPOIS: a FDP morre no quebra-molas! Nem parei, estava trocando de marchas, da terceira pra segunda, e pronto: a quarta falha, a selvagem, aquela que lançou trevas à moto, se manifestou.  A Renegada é gordinha, tem uns 200kg, e empurra-la é foda, em uma subida mais ainda. Na situação pensei: "vou pegar a outra pista, descida, mais um tranco e chego em casa". Ahaaam...Inocente!

No final da descida, a moto pegou, mas pegou tanto, mas tanto, que COLOU O RELÊ DE PARTIDA, apagando na sequência e, mesmo desligada, sem a chave no contato, o relê acionava o motor de arranque. Foi assim até acabar com a bateria, o que foi rápido, nem deu tempo de desligar o cabo da bateria. Sim, morri no prejuízo do relê e da bateria.

Quem me salvou esse dia foi o Marquinho (valeu cara!), que tinha uma corda e saiu da sua casa, no auge da ressaca, pra me socorrer (cheers modafoca). Só o trajeto de 4km que se seguiu, daria um outro texto. Foi muito engraçado. Parar o trânsito por conta do, nada seguro, reboque de corda, à 20km/h. Com a dívida moral de agradecer ao parceiro por atender o “QRU”, a saga do dia acabou em cerveja e rock n’roll. Nada mais justo. 

De lá pra cá já são 21 dias, sem a moto. Vi hoje uma luz no fim do túnel: o Mercado Livre já avisou que o vendedor enviou a mercadoria... 

André (ABS) Azevedo

quarta-feira, 9 de março de 2016

Mas Por Que Motos?



"Com o que você trabalha? - Com vontade de andar de moto!"

De primeiro, a gente já vai se desculpando porque serão posts longos... Até poderia ser curto, o gif aí de cima, e uma frase em baixo: “PORQUE MOTO É FODA, CARA”. E já seria o bastante para a maioria concordar, fechar a internet e montar na moto.

Porém, mais do que um post explicativo, esse é um post nostálgico. A gente vai contar pra vocês como que surgiu essa paixão por motos que estamos compartilhando com vocês e como é um assunto que dá muito pano pra manga, resolvemos dividir em duas partes: 

Post I - Por que motos, ABS? 

Post II - Por Que Motos, JONES?

    


terça-feira, 8 de março de 2016

Por Que Motos, Jones?






Uma resposta simples.

É uma das heranças mais puras e desinteressadas que recebi do meu pai, e não falo de valores ou qualquer bem físico ou material, mas da paixão em si, passada de pai pra filho.

Se o gosto por motos pudesse ser algo genético, seria esse o meu caso. Lembro de motos na minha vida desde que me entendo por gente, provavelmente, já estavam nela bem antes disso. Conheci aquela sensação de adrenalina combinada com o vento no rosto, talvez antes de engatinhar, viajando no tanque de clássicas, agarrado aos seus guidons como se fosse eu a conduzir, embora provavelmente nem entendesse o que se passava, só sabia que era bom demais, talvez a primeira sensação de me sentir vivo de verdade.


É inegável a influência do meu velho, foi com ele que ouvi pela primeira vez uma quatro cilindros rugir, barulho que faz os pelos do corpo arrepiar e o coração bater mais forte, só de estar por perto, como se um animal selvagem me fitasse pronto para o ataque, me chamando, plantando uma ansiedade e vontade de chegar cada ver mais perto, para roubar a minha alma e leva-la para um passeio.

Apesar de morarmos separados há muito tempo, a cada visita que fazia ao meu pai uma coisa era certa, tinha que rolar o passeio. Mal precisava pedir, e ele me levava com o maior prazer e cuidado do mundo. E por mais que eu tenha de admitir que quando o vento batia um pouco mais forte em mim, eu sentia medo e suava frio, eu nunca pedia pra parar, na verdade era sempre o inverso, “De novo pai”, “vai corre, corre”, vivenciar essa emoção já era viciante, me fazia a desejar cada vez mais, em um sentimento inexplicável, até porque não se resume a um só, e talvez ainda não tenham inventado um nome para a coletividade deles.




Das lembranças daquele tempo, destaco os passeios na GL 1000 Goldwing amarela, nos anos 90. A moto havia sido cuidadosamente restaurada, e me lembro de ver da garupa, como ninguém podia deixar de reparar nela, eu morria de orgulho e me sentia provavelmente como Jack no Titanic, ou DiCaprio no Oscar, “I’m the King of the World!”, pelo menos eu era. 

GL 1000 GoldWing

Não existe um tipo de moto que eu não goste, em um sonho utópico, a minha vontade era ter uma de cada para cada ocasião, talvez em breve eu até liste elas, mas pelas minhas influências, acho que é bastante previsível que tendi pelas esportivas. Uma das grandes responsáveis por isso, foi outra moto do meu pai, uma Kawasaki Ninja ZX-11, na qual vivenciei uma das histórias mais comedias da minha vida, envolvendo uma fita de fixação do capacete mal amarrada que importou em uma boa sapecada no pescoço por aproximadamente 70 km de viagem. 

Kawasaki ZX-11 Ninja

Essa moto influenciou diretamente na escolha da minha primeira, considerando também as minhas possibilidades financeiras ao tempo da aquisição do sonho, conquistado pela ralação em dois estágios diferentes durante o meu tempo de estudante.

A decisão não poderia ter sido mais acertada, nela conheci de fato a emoção de conduzir a minha própria moto, sentir que todo aquele poder agora residia na palma de uma das minhas mãos, apenas esperando uma torcida de pulso para se libertar como aquele animal selvagem, que antes apenas me conduzia, e agora considerava também a minha vontade, exigindo a minha total dedicação e atenção no seu controle, se moldando cada vez mais ao meu estilo, me proporcionando emoções, ou tão somente a paz de um vento no rosto e um sol sobre ombros, me afastando da rotina e livrando a minha mente dos problemas do dia a dia.